As vastas terras planas e abertas do Centro-Oeste americano, usadas por gerações para cultivar milho, soja, trigo e outros alimentos, podem ser transformadas em fazendas solares e eólicas, enquanto os EUA transitam de um sistema energético baseado na queima de combustíveis fósseis para um baseado em fontes renováveis. No entanto, a indústria de energia limpa não fez um bom trabalho em convencer a América rural de que uma fazenda solar pode ser uma boa vizinha assim como um campo de milho.
“Definitivamente há ceticismo, com razão”, disse Samantha Sawmiller, diretora de desenvolvimento da Open Road Renewables, empresa desenvolvedora de energia renovável do Texas. O problema, de acordo com Sawmiller, está na comunicação. E a indústria tem tido dificuldades nisso. Sawmiller cresceu em uma fazenda no sudoeste de Ohio. Ela ainda vive no estado, que viu uma forte reação política contra o desenvolvimento de energia eólica e solar nas áreas rurais nos últimos anos.
A oposição que acabou derrotando um plano para uma fazenda solar em uma vila de Ohio foi o tema de uma investigação de um ano conduzida pelo Inside Climate News e pela ABC News. E em 2021, o estado aprovou uma lei que efetivamente permite que autoridades municipais proíbam novos empreendimentos de energia renovável em suas jurisdições.
Não é só Ohio. Mesmo no Texas, líder nacional em energia renovável, algumas comunidades tentaram bloquear novos projetos. Um estudo da Universidade da Califórnia em Santa Bárbara encontrou oposição a fazendas eólicas mais prevalente no Nordeste dos EUA e em áreas de população mais rica e branca. A transição para energia limpa enfrenta um problema político não em Washington, disposta a investir bilhões no setor, mas nos legislativos, tribunais e fazendas do país: como convencer os vizinhos a permitir a instalação?
Protestos contra projetos de energia renovável adotam as mesmas formas de movimentos políticos modernos: cartazes nas calçadas com slogans criativos e discussões acaloradas nas redes sociais. Mas as vozes mais altas nem sempre representam a maioria. Os americanos rurais não são obrigatoriamente contra as energias renováveis, mas desconfiam. Essa é a conclusão de uma pesquisa realizada pela Embold Research e apresentada na conferência RE+ em setembro.
O levantamento online com mais de 2,6 mil moradores rurais mostrou que 63% acreditam que esses projetos primariamente beneficiam outras comunidades, e 62% que não trarão tantos empregos bem remunerados quanto prometido. “As mensagens econômicas não estão sendo bem recebidas porque eles não as veem como válidas”, disse Robin Pressman, da Embold Research. A maioria (54%) achava que as fontes renováveis nunca atenderiam 100% da demanda energética do país.
Apesar das preocupações, quando questionados diretamente, o apoio a projetos solares foi maioria. Os ventos eólicos “perto de casa” tiveram menor apoio, de 49%. “Há uma boa concordância entre o que as comunidades rurais veem como necessidades e o que a energia renovável pode oferecer”, disse Mike Casey, da TigerComm. “A indústria ainda não conseguiu demonstrar que pode e irá oferecer isso. Aí está o desafio e a oportunidade”.
Sawmiller, que não participou da pesquisa mas viu a apresentação, apontou que as renováveis ajudam a segurança nacional reduzindo a dependência de importações de petróleo, o que deve ser enfatizado. Parte do argumento é apenas demonstrar que há benefícios mesmo para quem vive perto das fazendas. “É muito difícil argumentar contra economia de custos em um momento de alta histórica na energia”, disse o CEO de uma empresa de energia solar. A indústria precisa melhorar a forma como se comunica, apresentando como as renováveis atendem os interesses rurais, por meio de infraestrutura, empregos e energia de baixo custo produzida localmente.