Mas não se preocupe. O buraco negro sorrateiro está adormecido e não vai nos comer.
Os buracos negros são impressionantes e poderosos e podem parecer um pouco assustadores graças à sua reputação de forças gravitacionais tão fortes que nem mesmo a luz pode escapar. Então vamos dar as boas-vindas ao Gaia BH1, o novo buraco negro mais próximo da Terra. Foi difícil encontrá-lo, mas uma equipe de astrônomos conseguiu localizá-lo.
Gaia BH1 está adormecida, 10 vezes mais massiva que o nosso sol e localizada a cerca de 1.600 anos-luz de distância na constelação de Ophiuchus (o portador da serpente). A equipe por trás da descoberta diz que está três vezes mais perto da Terra do que o vencedor anterior, um buraco negro localizado na constelação de Monoceros (unicórnio). Gaia BH1 está perto o suficiente para que o centro de astronomia NOIRLab da National Science Foundation o considere “em nosso quintal cósmico”.
“Embora tenha havido muitas detecções reivindicadas de sistemas como este, quase todas essas descobertas foram posteriormente refutadas”, disse o astrofísico Kareem El-Badry em um comunicado do NOIRLab na sexta-feira. “Esta é a primeira detecção inequívoca de uma estrela parecida com o Sol em uma ampla órbita em torno de um buraco negro de massa estelar em nossa galáxia.” Os buracos negros de massa estelar têm de cinco a 100 vezes a massa do nosso Sol, em comparação com os buracos negros supermassivos que vivem nos centros das galáxias.
El-Badry é o principal autor de um artigo sobre o buraco negro publicado na revista Monthly Notices of the Royal Astronomical Society esta semana. A longa lista de coautores aponta para o quão complexo e desafiador foi o estudo. Encontrar este buraco negro foi um triunfo da ciência com muitas camadas.
A história começa com o observatório espacial Gaia da Agência Espacial Europeia, que está catalogando as estrelas da nossa galáxia Via Láctea. Pesquisadores que pesquisavam os dados do Gaia detectaram uma estrela muito parecida com o nosso sol que mostrava uma oscilação distinta, sugerindo que algo estava puxando-a. Esse algo acabou por ser o buraco negro adormecido.
Buracos negros adormecidos são difíceis de detectar porque não estão causando um grande tumulto (como esse buraco negro cuspindo jatos cósmicos); eles estão apenas relaxando. “A única razão pela qual este buraco negro pode ser encontrado foi devido à capacidade de Gaia de ver a posição da estrela (que está orbitando em torno dela) com uma precisão tão alta”, escreveu Tineke Roegiers, membro da equipe de Gaia, em um comunicado da ESA na sexta-feira. “Esta posição oscila quando a estrela se move em torno do buraco negro.”
O avistamento de Gaia foi apenas o começo. A equipe de astronomia recorreu a outros telescópios para avaliar a descoberta. O telescópio Gemini North operado pela NOIRLab no Havaí desempenhou um papel fundamental ao permitir que a equipe fizesse medições precisas da órbita da estrela vista por Gaia. “Não conseguimos encontrar nenhum cenário astrofísico plausível que possa explicar a órbita observada do sistema que não envolve pelo menos um buraco negro”, disse El-Badry.
Buracos negros como este se formam a partir do colapso de estrelas massivas, então Gaia BH1 e sua estrela companheira formam um sistema binário. A formação e evolução do sistema é um pouco misteriosa. Roegiers descreveu o buraco negro como “bastante especial”, dizendo: “É diferente de todos os outros buracos negros conhecidos, e sua existência é difícil de explicar com modelos padrão de evolução binária”.
O NOIRLab estima que pode haver 100 milhões de buracos negros de massa estelar na Via Láctea, embora muito poucos tenham sido confirmados. A descoberta de Gaia BH1 é um passo importante para localizar e entender buracos negros silenciosos que não estão anunciando em voz alta sua existência ao cosmos.
Então seja bem vindo ao bairro, Gaia BH1. Este pode ser o início de uma nova compreensão de como os sistemas estelares binários evoluem. Isso mostra que dormente não significa chato.