O que um vídeo de 100 pixels de largura pode nos ensinar sobre contar histórias?

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Resumo dos Tópicos Principais:

  • A reflexão do estúdio CAMP sobre como registramos e nos movemos pelo mundo desde 2007.
  • A exposição do CAMP no Museu de Arte Moderna de Nova York, destacando obras que exploram narrativas visuais.
  • O projeto “From Gulf to Gulf to Gulf”, focado na vida dos marinheiros no Oceano Índico.
  • A importância da arquivação digital e a discussão sobre o conceito de pirataria.
  • A interseção entre tecnologia, arte e as histórias que os indivíduos contam.

Desde sua fundação em 2007, o estúdio colaborativo CAMP, situado em Mumbai, utiliza a vigilância, redes de TV e arquivos digitais para analisar como nos movemos e registramos o mundo ao nosso redor. Além de seus projetos cinematográficos e em vídeo, o estúdio, extremamente prolífico, opera um cinema no telhado em Mumbai e mantém vários arquivos de vídeo online, incluindo o maior arquivo digital de filmes indianos.

A primeira grande exposição do CAMP nos Estados Unidos está em exibição atualmente no Museu de Arte Moderna de Nova York e estará aberta até 20 de julho. A mostra inclui três projetos cinematográficos que abrangem duas décadas de trabalho, nas quais filmes utilizam antigas televisões privadas para criar retratos interativos de bairros, coletando filmagens de celulares gravadas por marinheiros navegando pelo Oceano Índico, além de reimaginar como uma câmera de CCTV poderia ser utilizada para exploração em vez de controle.

Shaina Anand, Ashok Sukumaran, Rohan Chavan, and Jan Gerber from left.

Em uma conversa com dois dos fundadores do CAMP, Shaina Anand e Ashok Sukumaran, discutimos a importância de manter um arquivo digital aberto, a definição escorregadia de pirataria e como as filmagens que não chegam a um filme final muitas vezes revelam mais do que o esperado.

O filme “From Gulf to Gulf to Gulf” oferece um retrato de marinheiros navegando pelo Oceano Índico, utilizando vídeos de celular para documentar suas jornadas e vidas diárias. Ashok Sukumaran compartilha como esse projeto surgiu durante a crise financeira global de 2009, quando eles caminhavam pela cidade de Sharjah, nos Emirados Árabes Unidos.

“A maioria desses enormes barcos de madeira foi construída nas cidades gêmeas no Golfo de Kutch, em Gujarat, e eram enormes. Há uma espécie de linguagem do porto que une iranianos, habitantes dos Emirados Árabes, somalis, e claro, indianos e paquistaneses, o que nos permitiu dialogar”, explica Ashok.

From Gulf to Gulf to Gulf presented in the first room of the Video After Video: The Critical Media of CAMP exhibition.

A produção desses vídeos era um processo físico, onde os marinheiros trocavam as filmagens por Bluetooth, longe do alcance da internet. Shaina comenta: “Quando os barcos ancoram em pequenas ilhas ao longo do Golfo de Aden, eles estão sempre em pares ou trios, viajando juntos por segurança. Esse é também o momento de lazer e de compartilhar músicas”. Esta conexão entre o mar e a criatividade, revela uma beleza singular nas narrativas que emergem desses encontros.

Shaina Anand stands in front of the projection of Bombay Tilts Down displayed in the final room of the exhibit, Video After Video: The Critical Media of CAMP.

Shaina e Ashok também ressaltam a busca por preservar imagens que muitas vezes são consideradas “sobras” de filmagens. “Nós estabelecemos a CAMP em 2007 junto com colaboradores que eram advogados, codificadores e cinefilos, e iniciamos o Pad.ma, nosso primeiro arquivo online”, diz Shaina. Este arquivo não apenas contém material que nunca entrou na edição final, mas é um testemunho da luta contra as barreiras legais em torno do direito autoral e da importância da pirataria em várias culturas.

A ideia de que as ‘sobras’ de um projeto muitas vezes têm um valor maior do que a filmagem editada é uma das fundações do trabalho do CAMP. “Nós tínhamos 100 horas de filmagem para um filme de 60 minutos”, alerta Ashok, sublinhando a importância de reputar o que se considera relevante no arquivo.

Além disso, o projeto “Khirkeeyaan”, onde se criaram portais de vídeo entre vizinhos usando câmeras de CCTV, proporciona um espaço onde os sujeitos de imagem possuem mais controle sobre como se representam. Ao unir tecnologia de vigilância com a narrativa comunitária, o CAMP continua a desafiar as convenções sobre como e quem é filmado.

Mona Chalabi on storytelling, the power of data, and covering Palestine

Na obra “Bombay Tilts Down”, a câmera de CCTV é utilizada para explorar a cidade de Mumbai, revelando como a vigilância altera nosso comportamento. “A ideia simples é que esse olhar da câmera já está lá, isso muda a maneira como nos comparamos em ambientes cotidianos”, conclui Ashok.

Em essência, o CAMP não é apenas um estúdio criativo, mas um arquivo vivo que captura as complexas interações entre tecnologia, narrativa e comunidade, desafiando as narrativas convencionais e proporcionando uma nova perspectiva sobre o que significa documentar a vida.

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