Um dos filmes deste ano, “Nosso Dia”, é típico de Hong: com enredo de baixo risco, dialogado e com atores recorrentes. Também é típico tematicamente: criativos lidando com o fim de suas carreiras, auto reflexão vaga e indícios de alcoolismo. O filme separa a narrativa entre um ator que abandonou a profissão e um poeta que ganhou popularidade tarde em sua carreira. A conexão entre as duas partes é mais temática do que qualquer outra coisa.
Conforme são questionados por pessoas mais jovens sobre como viver uma vida fazendo arte, nenhum deles tem respostas satisfatórias. Uma história termina com o desespero da companheira de quarto por um gato perdido; a outra com os vícios do poeta triunfando sobre sua saúde de longo prazo. “Nosso Dia” é bom para fãs de Hong, porém provavelmente não o suficiente para convencer quem não gosta.
O segundo filme do ano, “Na Água”, pode intrigar até os maiores fãs. Ele é quase todo filmado desfocado, exceto por uma cena inicial de seus três personagens compartilhando uma pizza. O efeito torna as partes sutis do trabalho de Hong menos nítidas. Gestos pequenos e expressões faciais, coisas que costumam se destacar na mundanidade de seus filmes, agora estão opacos. Funciona em parte, mas também é um pouco irritante.
“Na Água” segue um diretor que levou dois amigos para a Ilha de Jeju para fazer um curta-metragem. Aqui, é menos certo se ele é uma representação de Hong – não por estar desfocado, mas porque ele parece ser um amador. O diretor tenta se inspirar no local, mas não tem roteiro e os amigos ficam confusos sobre quando irão filmar. A maior parte do filme permanece desfocada. Inspiração finalmente vem durante encontro com uma mulher recolhendo lixo na praia.
Como o próprio Hong faz grande parte da filmagem e ed praia.
Como o próprio Hong faz grande parte da filmagem e edição, “Na Água” pode ser um vislumbre por trás das cenas. Porém, quando o diretor explica a ideia do curta, a incerteza cresce. Será uma boa ideia ou pretensiosa demais? Os atores compram a ideia ou só querem que o tempo não seja perdido? A ambiguidade pode ser o objetivo. Pessoalmente, queria que algo no filme ficasse focado.
O trabalho de Hong é destilar o cinema até os ossos: ele remove conflitos e enredos reais, mantendo valores de produção baixos, dando uma sensação caseira. Personagens são fortemente imaginados, mas raramente recebem arcos. Seus filmes parecem uma forte reação ao modo como são feitos hoje, com ênfase em grande dramatização e entretenimento. Em vez disso, Hong faz o tipo de coisa que streaming e algoritmos odeiam. Ambos os filmes funcionam melhor para quem conhece a obra de Hong.
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